Foi uma surpresa ter encontrado o Zé.
Não o via há anos. Apesar das muitas e dolorosas partidas que vida lhe pregou não perdeu o sentido de humor e a conversa foi ao jeito das que costumávamos ter nos tempos livres das muitas longas noites que passámos juntos: charme, sedução, subentendidos e segundos sentidos pautados por gargalhadas e sorrisos.
Por isso, fiquei totalmente desarmada quando inesperadamente me disse “estás com o mesmo olhar triste e desiludido que tinha teu pai…”
Foi como se me desse um murro no estômago.
O Zé conheceu o meu pai nos últimos anos da sua vida. Não o viu no seu melhor, mas sei que conheceu, compreendeu e aceitou o seu pior.
Gostava de pensar que também eu o tinha feito, na altura certa, quando ele precisava. E sinto mágoa por pensar que alguma da tristeza e desilusão do seu olhar tenham sido culpa minha. Por nunca lhe ter dado a perceber como devia o quanto o achava uma pessoa extraordinária. E por nunca lhe ter perdoado a espiral de auto-destruição a que se entregou, por gostar de todos, menos dele próprio.
Por isso, Zé, se tu consegues ver em mim o mesmo olhar dele, o que é a minha vida e o que será o meu futuro?
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