Em todas as conversas que tínhamos metade do tempo era para falar do marido.
Falar mal. Os termos nunca tiveram nada de carinhoso: bêbado, estropicio, múmia, porco, etc, etc.
E queixar-se da vida que ele lhe dava: só trabalho, limpar a porcaria, aturar as bebedeiras, ouvir os insultos. Tareia, penso que nunca apanhou.
E desejar o fim: quanto tempo mais vou ter de aturar isto, estou farta, já não o posso ver, Deus nunca mais se lembra dele.
Hoje disse-me que durante a noite ele tinha entrado na urgência de um hospital, que estava mal, muito mal e que os médicos já lhe tinham dito para esperar o pior. E tudo porque a médica assistente não lhe tinha ligado nenhuma, não estava certo. Se ele morrer, a médica vai ver, não lhas perdoa.
Está a ver, disse-me, sempre foram 36 anos juntos. O que vai ser agora da minha vida...?
Mais do que viver só e sem ninguém a quem amar, a solidão é viver só e sem alguém a quem odiar.
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