terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mais vale mal acompanhado que só

Em todas as conversas que tínhamos metade do tempo era para falar do marido.

Falar mal. Os termos nunca tiveram nada de carinhoso: bêbado, estropicio, múmia, porco, etc, etc.

E queixar-se da vida que ele lhe dava: só trabalho, limpar a porcaria, aturar as bebedeiras, ouvir os insultos. Tareia, penso que nunca apanhou.

E desejar o fim: quanto tempo mais vou ter de aturar isto, estou farta, já não o posso ver, Deus nunca mais se lembra dele.

Hoje disse-me que durante a noite ele tinha entrado na urgência de um hospital, que estava mal, muito mal e que os médicos já lhe tinham dito para esperar o pior. E tudo porque a médica assistente não lhe tinha ligado nenhuma, não estava certo. Se ele morrer, a médica vai ver, não lhas perdoa.

Está a ver, disse-me, sempre foram 36 anos juntos. O que vai ser agora da minha vida...?



Mais do que viver só e sem ninguém a quem amar,  a solidão é viver só e sem alguém a quem odiar.




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