terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Boston Legal à portuguesa (2): as vicissitudes duma testemunha

Pois o Tribunal é muito bonito, sim senhora, muito moderno, muito minimalista, muito cheio de mármore e de espaços muito, muito, muito amplos, que chegam a ter um pé direito igual à altura do edificio. Gélido, claro, que aquecer aquela treta, muito linda mas sem qualquer eficácia energética, deve custar uma pipa exorbitante de massa.

Nós, nos nossos pobres casebres, vamos precisar de certificados energéticos ou qualquer m€rd@ similar e ali, onde está empregue parte do dinheiro que nos esmifram todos os dias, é o que se vê. E os arquitectos que fizeram aquilo devem estar todos orgulhosos da obra. Deviam esperar 3 horas naquelas salas, com a roupinha molhada a secar no corpo (grande chuvada apanhei para lá chegar), a tiritar de frio, para verem a habilidade que fizeram!

A segurança também é do melhor. À entrada, detector de metais, com um orgulhoso cartaz a indicar que é absolutamente necessário passar pelo detector e que este pode desmagnetizar pens e similares, pelo que se recomenda sejam colocadas em bandeja própria. Pois, pois. Passei, juntamente com a minha carteirita carregada de coisas metálicas (moedas, chaves, etc) sem qualquer sinal de vida do pobre detector. O segurança ("tem de mostrar a mala") olhou para a minha tote preta carregadinha com ar displicente e achou que eu não tinha ar de criminosa real ou potencial. Se calhar naquele dia não estavam à espera de bandidos pelo que não valia a pena ligar a maquineta...

Câmaras de vigilância não vi nem uma, para amostra. Também, se as houvesse estou em crer que estariam desligadas, para poupar energia...

Depois de informar que tinha chegado para a dita conferência, lá fui para o frigorifico esperar que me chamassem. Não sei como pude ser tão ingénua que não levei nem livro, nem computador, nem nada para me entreter. Tentei a espaços jogar freecell e sudoku no meu iphone, mas os dedinhos gelados não estavam a querer colaborar.

Por volta das 14h40m aparece uma senhora de capa de morcego a fazer a chamada. O pessoal mais batido nestas andanças, não lhes dá confiança nenhuma: ou chega atrasado ou não chega mesmo e borrifa-se nas multas. Não fui chamada à primeira, nem à segunda, nem à terceira. "Não se preocupe que eles sabem , que está cá, mas é um colectivo, sabe..." informava a morcego de serviço. Não, não sei coisa nenhuma a não ser que estou gelada, cheia de vontade de ir à casa de banho (efeitos do frio,claro) e tenho medo de ir e de ser chamada a meio jacto e com as calças na mão e que já tive de telefonar a cada hora que passa para desmarcar tudo o que tinha de fazer, e estou a perder dinheiro e estou cada vez mais irritada.

Três horas e dez minutos minutos depois de ter chegado, quando já era a única infeliz que me encontrava no congelador, lá vem a morcego, desta vez sem capa (que já não vale a pena, só tá lá aquela desgraçada - eu) levar-me para a sala da video-conferencia No total, entre as palavras do juiz, da advogada de defesa e as minhas (que a acusação estava a borrifar-se para o que pudesse dizer e o dia já estava a acabar) estive lá 4 minutos!!!

E parece que tive muita sorte, porque segundo a morcego, na tal de video-conferência às vezes não há som outras não há imagem. "Hoje até correu muito bem" diz-me com ar todo feliz.

Para a próxima levo a pistola.

Sem comentários:

Enviar um comentário